sexta-feira, 16 de maio de 2014

O princípio da incerteza de um jurado literário


- VIII Concurso de Contos do Tijuco - 

- Arth Silva -

No fim do ano de 2013, Enio Ferreira, o Presidente da ALAMI, como um grande amigo das letras e por saber da minha paixão pela leitura, me convidou pra ser um dos jurados do “VIII Concurso de Contos do Tijuco”, concurso esse que, uma vez inclusive (2007), fui selecionado pelo miniconto “O pipoqueiro”.

Honrado pelo convite, aceitei.

Pois bem... Minha tarefa árdua, juntamente com mais duas juradas, Tereza Martins e Maria Tereza Moreira era ler atentamente todos os contos enviados ao concurso, contos esses que vieram de quase todos os estados brasileiros e de países como Suíça e Japão, e selecionar os 9 melhores textos, além de, é claro, escolher o conto premiado.

Legal, eu estava preparado! Que começasse a leitura!
Porém, fazer a leitura de tantos textos de qualidades distintas seguidamente, e diante de um prazo corrido é uma situação que me fez lembrar e temer o Princípio da Incerteza de Heisenberg, e fazer um equivalente literário dele. Pra quem não sabe, esse princípio diz que é impossível medir ao mesmo tempo a velocidade e a posição de uma partícula subatômica, uma vez que fazer essa medição altera a realidade observada. (entenderam? Não? Educação brasileira é mesmo um caos!)
Um equivalente literário desse princípio anunciaria a impossibilidade de medir talentos em concursos literários. Só que nesse caso essa medição altera não só a realidade do objeto observado (texto), mas também a do próprio observador (jurado), já que esse tem de ler inúmeros textos de boa qualidade seguidos por dezenas de textos com qualidade tão baixa que me pergunto como alguém teve coragem de enviar tal texto pra um concurso (suspeito que seja apenas pra sacanear os jurados)...  Enfim, essa quantidade de textos de baixa qualidade lidos em sequência, dá ao jurado uma angustia e um pessimismo quanto às próximas leituras, que altera o seu estado de consciência diante de cada próximo texto avaliado, podendo atrapalhar no julgamento de um conto.

Por isso, muitas vezes uma pergunta me pousou à cabeça: Será que eu saberia qualificar o texto de um novo Luiz Fernando Veríssimo, um novo Carpinejar ou até um novo Machado de Assis sem saber o nome dos autores e após ler  tantos textos de qualidade tão ruim?
Talvez enfrentar esse Princípio seja um mal de toda mesa julgadora de concursos literários, mas que deve ser encarada com profissionalismo e dedicação em busca dos contos realmente bons que participam dos concursos para que a apresentação de resultados não decepcione.

Quando finalmente consegui ler todos no inicio do mês de fevereiro, pra minha surpresa e alegria, 98% dos textos que selecionei como bons batiam com os resultados da Tereza Martins, e foram confirmados pela Maria Tereza. Inclusive, o texto que eu selecionei como o melhor, "Salto sem barreiras" de autoria do escritor Celso Antonio Lopes, também estava no topo da lista das duas juradas.

Como mineradores, nós jurados tivemos que garimpar ao máximo em meio a muita coisa sem tanto valor até encontrarmos lá no fundo as preciosas pepitas de ouro literário. Muitos eram tremendamente banais, já outros obras, eu gostaria de ter tido a ideia pra escrevê-los como “Encontro no Bistrô” do gaúcho Danilo Silvio Aurich e “Anjo” do paulista André Telucazu Kondo; contos que eu, particularmente, gostei muito e que estarão no livro “VIII Concurso de Contos do Tijuco”, publicado em breve pela ALAMI.  Livro que com certeza será bem recebido por todos aqueles apreciadores do “Princípio da boa literatura”.




Arth Silva é escritor, desenhista, designer e redator publicitário, especialista em perder canetas azuis.
Autor do livro "Contos à Queima Roupa" e da coletânea de memórias dos idosos de Ituiutaba "Gavetas da memória".
Seus trabalhos literários podem ser lidos na página "Sonhando a Deriva".
fsarthur@yahoo.com.br